CADAVER EXQUISITO VI

Capítulo II

Dom Alberte de Longueirom era um home sério e piadoso. O primeiro que mandara construir naquelas terras que lhe deixara o Bispo fóra umha ermida. De seguido, falara cos arquitectos da diócese para que começaram os trabalhos para o paço. Seria o máis grande em leguas a redonda, e o máis rico e poderoso. O terreo era cham no val, pero arrodeado por outeiros majestuosos. As vinhas cresciam bem, a terra era fertil e as gentes dóceis. Seria facil administrar aquelas suas posessons e cobrar os impostos. Mais havia algo... havia algo extranho naquel lugar. Percebia um nom sei que que o desasosegava. Aquela fraga que já talaram, fóra frecuentada por mulheres velhas de oficios proibidos, por mencinheiras e bruxas de artes escuras.... Nom havia moito tempo que a Inquisiçom queimara publicamente a umha mai e a sua própria filha, vizinhas dumha parróquia apenas a meio dia de caminho, por practicar bruxeria. Bom, ele mesmo usara algumha vez os serviços dalgumha mencinheira, lembrava. Quando era novo tivo que beber aquelas ervas cocidas e repetir aqueles cantares para matar os vermes do seu ventre. O que os médicos do seu pai nom puideram curar, era frecuente acodir ás gentes da aldeia, discretamente.... Máis ele nom queria duvidar de Deus nem dos seus representantes na Terra. Corria o ano 1636 e tinha cousas máis importantes nas que pensar. O Paço que levaria o nome da súa família estava case terminado. Faltavam pequenas cousas: o muro exterior, os jardins. Fazia falta esculpir na entrada o seu escudo de armas: umha oliveira com umha cuncha embaixo, e...
- Meu Senhor!
- Escoito-te, Dinis....
- Atopamos a alguem durmindo dentro do paço, na sala de armas.
- Durmindo? Por Deus!! Nom estava vigiada esa sala?
- Si, meu senhor. Nom sei como entrou, a porta estava trancada e havia guardas todo o arredor, nom sei como....
- Quem é, Dinis?
- É umha rapariga. Leva extranhas roupas, de tecidos que nunca antes olhara. Ninguem dos serventes a viu pola vila ou nas aldeias dos arredores... É cousa do demo, meu senhor. Quando falamos com ela... o seu sotaque... as suas palavras.... Deus me perdoe, pero nunca vim cousa igual. Agora témo-la atada no pátio, aguardando por vocé, meu senhor. Cousa do demo...
- Cousa do demo? Isto esta-me acabando coa paciéncia Dinis! Tenho que resolver eu todos os problemas? Tes medo, Dinis? Tes medo dumha rapariga atada? Tes medo que monte numha escoba e bote a voar, que che bote mal de olho?
- Nom, meu senhor, eu...
- Vou para lá eu mesmo. Mentres, mandade a um home á avisar á guarda da Inquisiçom. Se é umha meiga, que se encargue a Igreja, se é umha simples ladroa, encargarei-me eu de impartir justiza. Sabedes já como se chama, polo menos?
- Giana, meu senhor.