segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cego espanholismo.

Por Camilo Nogueira em Vieiros.

Este Governo Galego não deixa de surpreender-nos. Agora fixo-o o Conselheiro da Presidência, acordando em Valladolid junto com o seu homólogo de Castela e León a criação de uma macro-região a três com o Norte de Portugal, seica para conseguir fundos europeus para um programa transfronteirizo destinado a impulsionar os serviços de emergência e o intercâmbio de experiências na automoção, a educação, a investigação científica e tecnológica e dinamizar conjuntamente actividades socioeconómicas e culturais. A Junta secunda assim uma ideia defendida em 2009 polo Presidente daquela Comunidade Autónoma, Juán Vicente Herrera, depois de uma viagem a Lisboa procurando “encontrar fórmulas de cooperação em tempos de crise”.

A decisão do Governo Galego presidido por Alberto Rodríguez Feijóo revela de novo que carece de uma visão da Galiza como entidade política em si mesma, com o que isto supõe para a função das instituições autonómicas nos projectos económicos e culturais e nas relações exteriores, tanto mais quando se trata de Portugal. Este Governo esquece que existem instituições, que necessitam ser consolidadas e fortalecidas, como a Comunidade de Trabalho entre o Governo Galego e Comissão de Coordinação e Desenvolvimento Regional do Norte de Portugal e o Eixo Atlántico que integra a dezanove cidades dos dous territórios (claro que das galegas praticamente nenhuma é governada polo PP). Ignora que a acção conjunta com Castela e León não agrega nada nas relações com a nação viciña e mesmo desvirtua às relações especiais que estabeleceram a Galiza e Portugal depois da entrada conjunta na Comunidade Européia e do esvaecimento da absurda fronteira do Minho e a Raia Seca.

Para o Conselheiro galego compreender o alcance económico destas relações bastava com que antes da reunião vallisoletana tivera lido, uma semana antes, o Jornal de Notícias de quatro de Abril. Levaria sabido que Portugal exporta “mais para a Galiza do que para os Estados Unidos”, sendo a Galiza a primeira Comunidade Autónoma, por riba de Catalunha e Madrid, entre as importadoras de produtos portugueses e ocupando o terceiro lugar entre as exportadoras, usurpando-lhe Madrid o segundo lugar ao ser-lhe atribuida à Comunidade do Manzanares, por causa do domicílio social de Endesa e União Fenosa, a exportação da energia eléctrica produzida no Minho, o Sil e nas beiras do Eume e do mar Ártabro. As cifras dessa relação comercial aparecem com toda a sua importância se se tem em conta as povoações respeitivas, ocupando a Galiza destacadamente uma primeira posição que se integra, por outra parte, no carácter especialmente exportador da sua economia. As cifras de Castela e León, como as das também fronteiriças, Andalucia ou Extremadura, ficam bem longe das galegas.

Definindo-se por um cego espanholismo e não polo galeguismo e a racionalidade institucional, o Governo Galego despreza a singularidade cultural, linguística, social e económica das relações com Portugal que não supondo nengún obstáculo para os encontros que se estabeleçam com outras CCAA não deve ser confundida com as demais. Se se concebe a Galiza como uma nação no mundo e não como uma simples província do Estado espanhol, para a governar não se pode ignorar o que supõem na Península e na União Européia o território e a dimensão demográfica da faixa galego-portuguesa, frente ao Atlántico.

Mágoa que a Junta se vencelhe a posições ideológicas que -corregindo mesmo os múltiplos títulos com que se definiam os seus empoleirados Reis Católicos- levam a historiadores do tempo constitucional a afirmar que “no final do século XV o território de Castela compreendía Galiza, Astúrias, as Províncias Vascongadas, Leão, ambas Castelas, Extremadura, Múrcia e a Andaluzia Ocidental, aumentando com a incorporação do reino muçulmano de Granada” (sic).

A respeito de Portugal, em lugar de jogar em Valladolid sem pedir-lhe permisso à cabeça, e sem prejuizo da boa vicinhanza com Castela e León, não estaria demais que os conselheiros empregassem o tempo que lhes prestou a sociedade galega em fazer ainda mais pontes na fronteira do Minho -como no Sena em Paris disse há anos quando quase não havia o de Tui e Valença-, melhorar as comunicações na Raia Seca, cara Trás os Montes e o Douro, construir a sempre adiada linha de alta velocidade Vigo-Porto e potenciar as relações sociais, económicas ou universitárias existentes, descorrendo a cortina que impede enxergar que a língua própria da Galiza é também a de Portugal, quando imos aprendendo que para ir a Sevilha o melhor caminho é o português e que a rota cara o centro da Europa e outros continentes, como sabem os nossos empresários, não passa por Madrid.

    2 Comments:

    O'Chini said...

    Nogueira acerta.

    Pensar que a relaçom que tem (e que poderia ter) Galiza com Portugal passa por simplesmente ser vizinhos fronteirizos, tal como Andaluzia, Extremadura, Castela Leon...é ser parvo, cego, ou mal intencionado.

    Gonzalo Amorin said...

    Melhor resumo e análise, impossível! Saudos caro Chini!