Por Joaquim Pinto da Silva no Portal Galego da Língua. Sabemos que o chauvinismo (os exageros dos nacionalismos quando se fecham) é um defeito que nos chega a todos, mesmo sobre a simples forma de "o cozido à portuguesa é o melhor de todos os cozidos". Daí que todos temos sempre de estar alerta com este defeito que prejudica e muito o nosso combate. 1. O galego nasceu na Galiza – facto – mas a Galiza onde ele nasceu é geograficamente também a minha (que sou do Porto). Quer o galego, quer o termo Galiza são também meus, e não falo apenas de filiação linguístico-cultural (onde caberão todos os falantes das variantes galegas e portuguesas da nossa língua comum) mas sim de herança térrea, telúrica como gostam de dizer alguns. 2. Não é correcto dizer que o galego Condado Portucalense se afastou da nação, da mesma maneira que não seria correcto dizer que a Galiza actual não quis seguir uma parte da Galiza histórica no seu caminho para a autonomia. Não há "crime", nem "pecado", nem sequer "erro" no facto de uma parte da Galiza lutar e conseguir a independência, nem tampouco de uma outra, a setentrional, não o conseguir e ficar Casteladependente. A História fez-se assim, os povos não são melhores uns do que outros e muito menos neste caso em que se trata(va) de um único povo com a mesma matriz cultural. A "lusitanização" de que se fala com muita frequência ao norte e ao sul do Minho, foi uma etiquetagem, porque a cultura portuguesa é e será sempre de matriz galega. Os portugueses encontraram no termo "lusitano" o mito genético para construírem uma independência mais segura. Pensaram que mantendo o cordão umbilical galego estariam mais sujeitos a uma intervenção da Grande Espanha, que tinha absorvido a Galiza a norte do Minho. Creio que foi esta a astúcia que permitiu justificar um Portugal, nascido do "nada" e "inventor" de uma língua que não tem origem e por isso Castela não tinha justificação nenhuma para impedir um povo/língua/cultura tão "diferente" do resto da Península, de ser independente. Talvez a "mentira" tenha ajudado a fazer Portugal independente, talvez? Mas hoje, tal não se justifica. Do lado de cá do Minho temos de colocar na História a sua verdade: Portugal é de matriz cultural galega e a sua língua é o galego. 3. Temos então, de responder à questão "qual nome deve ter no futuro a nossa língua", pois é claro para todos que neste momento há dois nomes para a mesma coisa: galego e português. Se, de um lado, há o termo galego (que repito, é também meu) que se funda na História e na raiz, do outro, há o português que também se funda na História e no desenvolvimento da língua no tempo. De outra maneira: galego é o nome que é correcto do ponto de vista da origem e do respeito (abstracto) pela génese da língua; português foi a solução encontrada pelos independentistas (muito depois da independência, diga-se) para se autonomizarem mais em relação a uma Castela que impunha o asfixiamento à Galiza a norte do Minho e que poderia encontrar naquelas afinidades com Portugal mais motivos para a anexação total da Ibéria. Por último, abstraindo a Galiza norteminhota do resto do noroeste peninsular, "se" o galego norteminhoto não tivesse sido proibido e perseguido e, portanto, tivesse tido a evolução "natural" que todas as línguas em condições de dominante e liberdade sofrem, seria com certeza uma variante muito próxima do português actual. "Se" Portugal tivesse sido anexado por Castela, o português (o galego sulminhoto) estaria hoje muito próximo do galego actual, ou seja, o galego seria nesta altura porventura muito mais uniforme de Ribadeo e Ponferrada a ? (sim, interrogo-me porque não sei até onde iria a resistência linguística de certos habitantes de algumas regiões meridionais em relação ao castelhano). Repito: o que resta é saber como chamar à língua e como a vamos escrever na Galiza ao norte do Minho: - olvidando séculos de História da Grande Galiza (da Cantábria até ao Mondego) unida? ou - olvidando séculos de História do Portugal independente desde o XII até hoje? Serei brutal pondo o tema assim. Pois sou, mas a resposta repito é política agora, isto é, qual a opção que será mais fácil e eficaz a tomar? Bom, espero ter-me bem explicado, mas acreditem que quero é contribuir para a aclaração da questão, porque esta, só sendo totalmente aclarada, explicitada, poderá ter uma resposta segura e certa. E como se depreende – creio e espero – do que disse, a pergunta poderá ser linguística, mas a resposta vai ser, sem dúvida alguma, política. Um saúdo galego deste galego portucalense, do Porto mesmo.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Galego, português?
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1 Comment:
Interesante reflexom, especialmente vindo de boca dum galaico do sul do Minho!!
Vou-lhe ensinar isto algum colega Lisboeta, hehehe.... vai flipar. ;)
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