Há poucos dias, um companheiro falava-me do caso que lhe aconteceu como representante de umha entidade ecologista, quando tivo que renunciar a ser entrevistado num canal televisivo espanhol por se negar a deixar fora o seu idioma, que é o de todas e todos nós: o galego.
Este companheiro recebera um telefonema do canal de televisom espanhol Telecinco, para o entrevistar em relaçom a um conflito ambiental na comarca de Trasancos. Acedeu, claro, mas na altura da entrevista, quando começou a responder na nossa língua, o entrevistador pediu-lhe para falar em espanhol, ao qual este companheiro, com bom critério, se recusou. A entrevista ficou por aí...
Lembro agora este caso enquanto vejo no Telejornal doutro canal privado espanhol, La Sexta, que vários porta-vozes da recentemente criada Plataforma em Defesa das Fragas do Eume, militantes de organizaçons políticas nacionalistas galegas, respondem em correto castelhano às perguntas sobre a grave situaçom originada na Capela polo incêndio florestal do passado fim de semana.
Suponho que a avaliaçom realizada por algumhas pessoas, incluídas as que acabei de ver na televisom, será que o importante é levar a mensagem dos movimentos sociais aos grandes meios de comunicaçom, sendo a língua utilizada um aspeto secundário. Nom é a minha, que considero ser a língua utilizada, num contexto de substituiçom lingüística como o galego, parte fundamental do objetivo discursivo.
Nom é preciso lembrar aqui a desigual consideraçom que tem o catalám em relaçom ao galego, no mercado mediático espanhol. Todos e todas vemos como aparece habitualmente legendada, em boca de empresários, políticos, desportistas profissionais, cantores... em funçom do interesse jornalístico da informaçom e do peso que de facto tem umha comunidade lingüística articulada e em autoconstruçom como é a catalá.
O catalám nom é invisível.
Na Galiza, onde a situaçom parece mais a da desarticulaçom ou esfarelamento final da nossa comunidade de falantes, o poder lingüístico está todo do lado do espanhol, sem que nem sequer as pessoas e coletivos mais sensibilizados com a questom pareçam ser conscientes do que está em jogo e do avançado processo de destruiçom da nossa comunidade lingüística.
Só assim se explica a fácil renúncia dos nossos porta-vozes, nom só numha problemática social concreta como a dos incêndios no episódio que comento, mas no conflito que atravessa qualquer acontecimento social, especialmente se conta com a interposiçom do alto-falante televisivo. Como podemos, nas circunstáncias que vivemos, renunciar ao uso do nosso idioma no nosso próprio país na primeira oportunidade em que nos colocam um microfone diante para falar do que quer que seja?
Podemos reclamar e queixar-nos pola atitude lingüicida das instituiçons públicas e privadas, claro; mesmo pola escassa consciência lingüística que coletivamente nos carateriza como povo, resultado de um histórico processo de extorsom ainda em marcha. No entanto, dificilmente poderemos avançar na recuperaçom de todo esse património se nós próprios nos invisibilizamos e exercemos a mais efetiva das repressons: a autoimposta em forma de autocensura.
Eu fico com a atitude do companheiro de que falei no início, que preferiu ser vítima da censura mediática em lugar de facilitar o labor aos que querem um galego invisível. Muitas atitudes como as dele obrigariam esses mesmos meios a recorrerem mais à legendagem e, sobretodo, tornaria visível a existência de um conflito lingüístico neste maltratado país chamado Galiza.
Por Maurício Castro em Galicia Confidencial.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Autocensura lingüística
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1 Comment:
País!
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